Articulação dos Povos Indígenas do Brasil – APIB
A histórica ocupação do plenário Ulisses Guimarães, da Câmara dos
Deputados, realizada por cerca de 700 indígenas em abril deste ano, está
prestes a ser desconsiderada pelo presidente da Casa, deputado Henrique
Eduardo Alves (PMDB/RN). Cumprindo compromisso assumido com os
ruralistas, ele anunciou para amanhã, dia 4, a instalação da Comissão
Especial referente à Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 215. A
instalação desta Comissão foi justamente o que levou os indígenas a
fazerem a ocupação do plenário, já que esta Proposta inclui entre as
competências exclusivas do Congresso Nacional a aprovação de demarcação
das terras tradicionalmente ocupadas pelos povos indígenas. A matéria só
poderá ir ao plenário depois de passar pela Comissão.
“Esta proposta atenta contra a Constituição Federal e, assim, contra a
democracia no Brasil. Quando direitos são atacados, toda a sociedade
paga”, declara Sônia Guajajara, da Articulação dos Povos Indígenas do
Brasil (Apib). Se a PEC for aprovada, deputados e senadores teriam o
poder de, inclusive, reverter demarcações já homologadas. A titulação de
terras quilombolas e a criação de unidades de conservação ambiental
também passariam a ser atribuição exclusiva do Legislativo. Juristas
contestam esta proposta com veemência e ameaçam ir ao Supremo Tribunal
Federal (STF) caso ela seja aprovada.
“A PEC 215 afeta uma regra jurídica fundamental: a divisão dos
poderes. Demarcar é um ato administrativo, ou seja, compete ao Executivo
(…) vamos ao Supremo se for preciso para combater essa proposta
aviltante”, defende o jurista Dalmo de Abreu Dallari.
O ex-procurador estadual do Paraná e ex-presidente da Funai, Carlos
Frederico Marés, frisa que ato administrativo é um conceito jurídico e
ato único. “O Legislativo não tem que dizer qual é a terra dos povos
indígenas, mas que os povos têm direito a ela”, disse. Conforme o
jurista, a Constituição de 1988 garantiu o direito originário dos povos
indígenas sobre suas culturas, sociedades e terras e a demarcação é só
um ato formal de reconhecimento do direito originário dos povos
indígenas.
Ruralistas tomam conta da Comissão
Pelas indicações que os partidos fizeram para compor a Comissão
Especial da PEC 215, ela será majoritariamente formada pela bancada
ruralista. Segundo o site da Câmara, os deputados titulares já indicados
são: PMDB: Alceu Moreira, Asdrubal Bentes e Osmar Serraglio; PSDB:
Nilson Leitão e Reinaldo Azambuja; PSD: Eduardo Sciarra e Moreira
Mendes; PP: Carlos Magno e Luis Carlos Heinze; PR: Vicente Arruda; DEM:
Paulo Cesar Quartiero; PDT: Giovanni Queiroz; PTB: Sabino Castelo
Branco; PSC: Nelson Padovani; PCdoB: Perpétua Almeida. Três partidos e o
bloco PV/PPS ainda podem fazer suas indicações: PT, que tem três vagas e
PSB, PtdoB e o bloco PV/PPS, com uma vaga cada. Dentre os suplentes
estão nomes de ruralistas históricos, como Valdir Colatto, do PMDB, e
Jerônimo Goergen e Vilson Colatti, ambos do PP.
Mobilização em defesa da Constituição Federal
Sobre a questão indígena, quase uma centena de matérias circulam, em
alguma fase de tramitação, nas casas legislativas do Congresso
Nacional. O que percebe-se hoje é que a Constituição Federal, perto de
completar 25 anos, encontra-se sob o cerco ruralista no Congresso
Nacional. A Frente Parlamentar da Agropecuária, financiada pela rede
internacional do agronegócio, exerce todo tipo de pressão contra a Carta
Magna com propostas, projetos de lei e toda sorte de ataques. O
objetivo é um só: avançar com gado, cana e soja, dentre outros
monocultivos, sobre terras indígenas, quilombolas e áreas de
preservação. A PEC 215, assim como o Projeto de Lei Complementar (PLP)
227 e outras propostas legislativas e executivas, têm sido os atuais
instrumentos criados e utilizados por estes setores para alterar e
retirar os direitos constituicionais dos povos indígenas.
Nesse sentido, a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e
entidades aliadas convocam a sociedade brasileira a se mobilizar entre
os dias 30 de setembro e 5 de outubro contra a flagrante violência ao
que de mais caro custou ao Brasil nos últimos anos: a democracia e os
direitos sociais. Em relação aos povos indígenas, o próprio direito
originário sobre suas terras tradicionais está ameaçado.
Comitê de Imprensa da Mobilização Nacional Indígena:
Helena Ladeira: 11 99739-4912, helena@trabalhoindigenista.org.br
Nathália Clark: 61 9642-7153, nathalia.clark@greenpeace.org
Oswaldo Souza: 61 9103-2127, oswaldo@socioambiental.org
Renato Santana: 61 9979-6912, editor.porantim@cimi.org.br
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