A FIFA parece não ligar para as inúmeras denúncias de racismo e ameaças de boicote. Como prova mais recente, acaba de substituir Camila Pitanga e Lázaro Ramos por um casal de loiros
Lelê Teles, Viomundo
Jogadores negros ameaçam boicotar a copa do mundo! Assim mesmo, a
FIFA decidiu vetar o casal de negros, Camila Pitanga e Lázaro Ramos.
O jogador marfinense, Yaiá Touré, do Manchester City, avisou às autoridades do futebol
europeu que os jogadores negros poderão não disputar a Copa do Mundo de
2018, na Rússia. País com histórico de racismo nos estádios.
Touré, em partida este ano contra o CSKA, foi chamado de macaco pela
torcida russa. Em 2012, o Yayá Touré e Ballotelli foram ofendidos pela
torcida do Porto que cantava hinos racistas. No início deste ano,
Balotelli e Robinho foram ofendidos por alguns torcedores da Fiorentina.
Outro dia, a torcida do Roma ofendeu tanto os negros Balotelli e
Boateng, do Milan, que o árbitro teve que interromper a partida. Boateng
já abandonou o campo certa vez por não suportar as ofensas. Acontece o
tempo todo. Em muitos estádios europeus, jogadores negros são ofendidos
pela torcida adversária com jocosas imitações de macaco, e até bananas
são arremessadas nos gramados.
Mesmo assim, a FIFA não aceitou a dupla de negros sugerida pela Globo.
Na semana passada, a torcida do espanhol Bétis, time do brasileiro Paulão, vaiou o nosso patrício e fizeram macaquices. Torcedores do seu próprio time!
Porém, a FIFA não quis saber do casal de negros e escolheu um casal
de loiros sulistas para apresentar a cerimônia do sorteio de grupos para
a Copa do Mundo do ano que vem.
Lázaro Ramos, um dos grandes atores brasileiros da atualidade, filho
do teatro popular, é da Bahia, onde será realizado o evento no mês que
vem. A Bahia é o estado que tem o maior contingente negro do Brasil.
Mais: a Bahia é o centro da resistência e do orgulho negro no Brasil.
Mas a FIFA preferiu que os mestres de cerimônia do evento, a ser
transmitido para todo o mundo, fossem a apresentadora gaúcha Fernanda
Lima e o ator catarinense Rodrigo Hilbert.
O futebol brasileiro, até os anos 20, recusava profissionalizar
jogadores negros. O presidente Epitácio Pessoa chegou a vetar a presença
de negros na Seleção Brasileira no Sul-Americano de 1921. Mas os negros
não desistiram e foram conquistando o seu espaço. Primeiro no Vasco,
transformando o time em uma potência, depois Bangu, Flamengo,
Fluminense…
Em ’34, chegou à seleção brasileira o ousado Leônidas da Silva, o
Diamante Negro, inventor da bicicleta, a jogada mais espetacular do
futebol, a mais criativa, a mais inusitada. Já na Copa do Mundo de ’38, o
Diamante Negro comandou o time que encantou o mundo. Um time com
branco, mulato e preto. Quatro décadas depois, um negro surge como o
maior nome deste esporte em todos os tempos. Em seguida vieram Romário,
Denner, Ronaldos, Rivaldo, Robinho, Neymar…
A questão, portanto, não é que a CBF tenha escolhido um casal loiro. É que ela rejeitou o casal de negros.
Na verdade, mesmo sendo o maior exportador de jogadores para o
exterior, e sendo negros a maioria deles, o Brasil ainda tem poucos
negros nas situações de comando. Após o negro Barbosa ter levado nas
costas toda a culpa pela perda da Copa de ’50, demorou muito para vermos
um negro novamente com a camisa de goleiro na seleção.
A FIFA poderia ter sugerido mesclar Fernanda Lima e Lázaro Ramos, ou
Pitanga e Hilbert. Mas mesmo fazendo campanhas contra o racismo nos
estádios, a FIFA não conseguiu compreender a simbologia de termos ali ao
menos um negro representando o Brasil; ou não quis compreender.
Na Copa das Confederações no ano passado, durante o jogo entre
Uruguai e Itália, devido ao preço exorbitante dos ingressos, o cara mais
negro dentro da Arena Fonte Nova, na negra Bahia, era o italiano
Balotelli.
A FIFA já quis proibir a venda de Acarajé durante os jogos, e
desproibiu a venda de bebidas alcoólicas nos estádios. Ela faz e
acontece. Pode até não se importar com o fato de que, no Brasil, o preço
do ingresso pode segregar raças.
Se importará em 2018, se Touré levar o seu ativismo adiante.
Eu fui à varanda olhar para o mar, um pensamento passou com a maresia
e eu o agarrei: com mil diabos, mesmo com tudo isso sendo do
conhecimento de todos nós, a FIFA recusou o casal de negros e contratou o
casal de loiros. E eles aceitaram!
Danilo
Reflexiones: http://pensarjusto.blogspot.Textos y webs: http://www.inventandopolvora.
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