O Ministério Público Federal (MPF) pediu à Justiça a
suspensão urgente de audiências públicas sobre o
licenciamento ambiental da usina hidrelétrica São Manoel,
projetada para ser construída no rio Teles Pires, na divisa
dos Estados do Pará e Mato Grosso. O MPF pede que as
audiências fiquem suspensas até que seja finalizado o estudo
de medição de impactos da obra sobre os povos indígenas,
chamado de estudo do componente indígena.
O pedido de suspensão foi ajuizado no último dia 17. As
próximas audiências públicas estão marcadas para os dias 27,
29 e 30 deste mês, em Paranaíta (MT), Jacareacanga (PA) e
Itaituba (PA), respectivamente. A ação aponta
irregularidades praticadas pela Empresa de Pesquisa
Energética (EPE) e pelo Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Segundo
o MPF a EPE não apresentou uma versão completa do estudo do
componente indígena e o Ibama aceitou o estudo mesmo assim.
O estudo deveria ter sido feito de acordo com as diretrizes
de um termo de referência elaborado pela Fundação Nacional
do Índio (Funai). O termo de referência estabelecia o que
deveria ter sido estudado para medir os impactos da obra
sobre os povos indígenas da região.
“O documento não foi entregue em sua totalidade, como
determina o termo de referência. Vale dizer, os impactos da
obra sobre os povos indígenas ainda não são conhecidos em
sua totalidade”, criticam na ação os procuradores da
República Felipe Bogado e Manoel Antônio Gonçalves da Silva,
que atuam em Mato Grosso, e Felício Pontes Jr., que atua no
Pará.
Na ação, o MPF cita pareceres da Funai sobre os estudos
realizados. Para a autarquia, são “inconsistentes” os
programas previstos nos estudos para redução de impactos aos
indígenas.
Segundo a Funai, falta planejamento para ações integradas
em proteção territorial, proteção aos índios isolados,
proteção à saúde, monitoramento participativo da qualidade
da água, da fauna e das espécies de peixes. Falta também
planejamento para ações integradas de gestão territorial e
ambiental, de recuperação de áreas degradadas, de formação e
capacitação, de comunicação social, de educação ambiental,
geração de renda, valorização cultural do patrimônio
material e imaterial, entre outros itens ausentes.
“Cumprindo tabela” - “Apenas essa
constatação já seria suficiente para demonstrar que não se
pode chegar às audiências públicas sem que estes programas
estejam em debate, sob pena de se tornarem inócuas”, alertam
os procuradores da República. Para o MPF, essa
irregularidade é ainda mais grave por se tratar de um
processo de licenciamento que, segundo palavras da própria
Funai, é marcado “por conflitos e tensões, e alguns
confrontos diretos” e em que o estudo do componente indígena
está sendo feito de qualquer maneira, “apenas para cumprir
tabela”.
“Como levar esses estudos às audiências públicas, já que
não demonstram com clareza nem mesmo a obra em si (projeto
executivo), quanto mais os verdadeiros impactos e suas
mitigações/compensações em relação aos indígenas?”
questionam os autores da ação.
A EPE chegou a apresentar à Funai uma resposta sobre as
críticas feitas pela autarquia. Apesar de a Funai ainda não
ter se manifestado sobre os argumentos da EPE, o Ibama
agendou as audiências públicas. No entanto, para o MPF a
participação popular não é apenas um requisito formal do
licenciamento. “É fundamental a participação efetiva da
população, sobretudo a atingida, que tem direito de saber os
reais impactos do empreendimento e questionar sua
viabilidade”, destaca a ação.
Além de pedir a suspensão das audiências, o MPF solicitou à
Justiça Federal que obrigue a EPE a concluir o estudo do
componente indígena, sob pena de aplicação de multa. O MPF
pede a aplicação de multa também ao Ibama, caso sejam
realizadas as audiências públicas sem a conclusão do
referido estudo.
Processo nº – 0013839-40.2013.4.01.3600 – 1ª Vara Federal
em Cuiabá (MT)
Link para acompanhamento processual
Íntegra da ação
Ministério Público Federal no Pará
Assessoria de Comunicação
(91) 3299-0148 / 3299-0177
ascom@prpa.mpf.gov.br
http://www.prpa.mpf.mp.br/
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