- Estados do Brasil:
Aviões
dão rasantes em município e comunidades. Ofícios comprovam que decisão
por retomada de trabalhos ocorreu dias depois de tumultuada reunião em
Jacareacanga
13/08/2013
Renato Santana, de Brasília (DF)
Aviões e tropas
da Força Nacional estão em Jacareacanga, município ao sul do Pará, para
garantir a entrada de 130 técnicos no território indígena Munduruku
para estudos necessários às usinas hidrelétricas de São Luiz do Tapajós e
Jatobá. De acordo com lideranças indígenas, as tropas empreendem
exercícios de guerra, com voos rasantes e mobilidade das tropas em
pontos estratégicos da cidade.
O envio dos técnicos e
a operação da Força Nacional, porém, fazem parte da quebra de acordo do
governo federal com os Munduruku. Após o povo deter três pesquisadores
na terra indígena, no início de julho, o governo federal suspendeu os
estudos das usinas até a regulamentação do direito à Consulta Prévia –
Convenção 169. O que nunca ocorreu.
No entanto, à sombra
de tal acordo, a trama da retomada dos estudos se fiou. Durante reunião
de caciques e lideranças Munduruku, no último dia 3, o prefeito de
Jacareacanga, Raulien Queiroz, do PT, com força policial e
institucional, comandou a destituição dos principais dirigentes da
Associação Pusuru. Além disso, impediu manifestações contra a construção
das usinas hidrelétricas no rio Tapajós.
Quatro dias depois do
encontro em Jacareacanga, denunciado pelos Munduruku como forma de
enfraquecer a organização interna num movimento orquestrado pelo governo
federal, o secretário executivo adjunto do Ministério de Minas e
Energia, Francisco Romário Wojcicki, assinou documento enviado para a
presidente interina da Funai, Maria Augusta Assirati, comunicando a
retomada dos estudos no rio Tapajós.
No documento, Wojcicki
informa que um dia antes, 6 de agosto, representantes dos ministérios
de Minas e Energia, Planejamento, Orçamento e Gestão, Justiça e
Secretaria Geral da Presidência da República, órgão responsável pela
regulamentação da Consulta Prévia, decidiram pela retomada dos estudos
no último dia 10. A Funai apenas foi comunicada da decisão, cujo estudo
segue até 10 de setembro e, numa segunda etapa, entre 15 de setembro e
20 de novembro.
Sem questionamentos, a
presidente da Funai, Maria Augusta, enviou, no último dia 8, ofício
para a Associação Pusuru comunicando o retorno dos técnicos para dali
dois dias. Mesmo com um representante do órgão indigenista presenciando
tudo o que ocorreu no encontro do dia 3, Maria Augusta parabenizou a
“importante reunião acontecida no dia 3 de agosto”. Em ligeira confusão,
disse que Jacareacanga fica no Mato Grosso.
“Tudo isso está muito
estranho. Os caciques e as lideranças têm certeza de que tudo tem
relação, a reunião do dia 3 com esses documentos apenas comunicando a
volta dos estudos. A Força Nacional está com caminhão e carros. Circulam
pela cidade e nas redondezas”, declara Maria Leusa Munduruku.
Fora da terra indígena
No
ofício enviado pelo Ministério de Minas e Energia para a Funai não há
nenhuma menção se os técnicos entrarão ou não na terra ou território
Munduruku. Ainda assim, a presidente da Funai fez questão de frisar que
os estudos ocorrerão fora da área indígena. Em nenhum dos dois
documentos, porém, é citada a presença da Força Nacional e como a
operação dos agentes militares ocorreria. Mais uma vez Maria Augusta não
demonstra questionamentos.
“Os pesquisadores
entram no nosso território, mas mesmo se não entrassem as usinas vão
atingir tudo, então não pode ser desculpa. O governo quebrou acordo e
quer impor projeto contra nós. Vamos resistir”, afirma Maria Leusa. A
Munduruku lembra que não foram consultados quanto aos empreendimentos. A
primeira parte dos estudos, comunicada à Funai pelo Ministério de Minas
e Energia, ocorrerá entre os municípios de Jacareacanga e Trairão
(usina de Jatobá) e a segunda entre os municípios de Itaituba e Trairão
(usina de São Luiz do Tapajós).
“Não tem como os
pesquisadores não passarem nas nossas terras. Aliás, tudo isso é nosso
território, que reivindicamos. Se essas usinas saírem, nossas aldeias
serão inundadas. Nossos locais sagrados serão inundados. Então é até um
absurdo a gente ter que ouvir que os técnicos não entram. A Funai
deveria tomar vergonha”, declara de forma enfática Maria Leusa.
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